Ela não queria dormir. Sabia que se dormisse havia grande
chance de não acordar mais. Sabia que aquela noite era o prazo final da
profecia. A última lua azul do século. Mesmo tendo dito a todos em alto e bom
som que não acreditava em profecias, naquele instante ela se sentia paralisada
de medo. A angústia havia dominado seu corpo, apesar da sua mente tentar lhe
dizer que aquilo era bobagem.
“Vá dormir” pedia seu corpo cansado, pedia sua mente
pensando em todos os grandes acontecimentos previstos para o próximo dia. Mas
ela não conseguia. Seus olhos miravam a cama e suas mãos seguravam firme a
coberta junto ao peito. Ela estava parada, de pé, mirando o leito. Seus lábios
se espremeram.
Por que ela não conseguia se decidir? Por que ela não conseguia se mover? Já havia resolvido toda essa peleja em sua mente há tantos anos. Desde pequena ouvira que era ela a escolhida para cumprir a profecia. Sabia que muitos se apoiavam na fé de que ela faria o sacrifício em benefício de seu povo. Recebia de todos os lados olhares esperançosos, e alguns muito sombrios, como se invejassem sua posição, ou como se soubessem mais dela do que ela mesma sabia de si!
Fora preparada para aquele momento durante toda a sua infância. Até um dia durante seus treze anos que não aguentou mais. Revoltou-se durante um jantar, expôs toda sua ira e descontentamento com o papel que lhe fora imposto. Queria escolher. Queria ter domínio sobre seu próprio caminho. Queria ser dona de si. Não deixaria que aquelas pessoas que mal a conheciam a tornassem a única solução de suas vidas patéticas. A vida era sua!
Não foi de um dia para o outro que chegara a essa conclusão.
Havia alguns meses, uma de suas melhores amigas, sua ama Lynx, começara finalmente
a falar. Às amas tal coisa não era
permitida, e durante toda sua infância, Lynx apenas se restringira a ouvir-lhe
e acenar positivamente. Esta atitude a incomodara profundamente, pois como
podia Lynx conhecer toda a sua curta vida e ela não saber nada sobre Lynx? Como
podia ela nutrir um amor e respeito tão grandes àquela figura, que para todos
passava completamente despercebida, e que para ela muitas vezes fora uma
verdadeira mãe?
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