quarta-feira, 29 de junho de 2011

E então...

E então a gaiola se abriu
Lá de dentro, com meu bico, cutuquei a fechadura
Insisti
Cutuquei
Matutei
Analisei
E abri!
Ninguém viu... só eu.


Empurrei
Com pouca força
A portinhola se abriu um pouquinho
Rangeu
Eu, lá do fundo, observei
Missão cumprida!

E então a gaiola se abriu...

E agora?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Amor

O amor é uma coisinha muito engraçada
Que até quando a gente não quer, ele entra e faz morada
Mas se espreita pelos cantinhos mais secretos
E fica lá escondidinho
E a gente nem percebe
Quando vê já fez um estrago.

Moleque danado, prega peças bem arrojadas
Tem um senso de humor sarcástico
E pega qualquer um desprevenido

E aí? Que fazer? Fugir?
Fugir de quê? Você não o vê.
Não sabe para onde ir.

E ele fica lá, menino levado
Te vendo girar como uma barata tonta
Sem saber de que lado veio o golpe.

Já era, virou piada do destino
And another one bites the dust.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Movimento

Fora do corpóreo invólucro
Quem sobreviverá?
Nem aquela que ri e dança
Nem a que em paz descansa

Fora dessas lentes
O espírito vaga desordenado
Perdido, sem plano certo
Ambulante, sem estar liberto

Dentro desse recipiente
Me acolho resignada
Me escondo oprimida
Simulo a morte ainda em vida

Me reconheço estando só
Me aturo, egulo seco
Me calo em segurança
Me fecho resignada, mansa

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Bondage

Minha cabeça deu um nó
Que na garganta parou
Que na língua enrolou
Me amordaçou

Me enrosquei toda
Nessa cilada, enlaçada
Emudecida, paralisada
Envolvida que só

Foi um aperto no pescoço
E me deu um troço
Que de ver-te, não posso
Meu corpo eriçou

Imobilizada, desperta
Respiro-te perto
Um soluço incerto
De prazer e furor

É tua máscara na certa
Que esse serviço presta
De me pôr inquieta
Suor e calor

Dói, mas eu gosto
Do gosto, do ócio
Do ópio, do vício
Hipnótico ardor

Que bate e aperta
Segura e espeta
Envolve e aceita
Só lágrima e dor

Que prende e desarma
Fere e amarra
Essa presa sem garra
Essa vítima do amor

domingo, 12 de junho de 2011

A viagem

O fato é que sair de casa me faz sair de mim. O fato é que viajar me faz encontrar um monte de pessoas que realmente mexem comigo. E estão todas dentro de mim. Só que normalmente elas ficam lá, bem quietinhas, porque estão esquecidas. Eu, coitadas, abandono-as, sufoco-as. Esqueço-me delas. Acho que tenho medo de cada uma delas. Por que são todas eu e eu tenho medo de me encontrar. Ficando em casa é mais fácil lidar com aquela eu que criei pra poder me aturar. Mas sair de casa me faz ter que lidar com cada uma das outras. E são todas ensandecidas. Ou me assustam bastante. Ou nem são tão perigosas assim, mas como me desestabilizam! O fato é que encontrá-las me agita e aí é que mora o perigo. Porque o susto é proveitoso e me embala. Quero ficar com ele e viver nele. Mas aí, é a volta para casa que entra em jogo. Ah não... Vou ter que encontrar com aquela eu de novo. Aquela, que tudo aceita, que vive embalada pela rotina, que finge ser o que é e finge estar tudo bem. Que vive em sua redoma e aceita quando dizem que é ótimo... Quero ficar aqui, com essas outras pessoas que vivem dentro de mim, tão mais interessantes, interessadas, empreendedoras, criativas, bonitas, modernas. Por que eu tenho que voltar? Voltar não é algo ruim? Voltar não é andar pra trás? Mas parece que é o ritmo imposto pela dualidade imposta pela experiência coletiva. Se vamos temos que voltar não é? Chato...

 Jan -2010