quarta-feira, 23 de novembro de 2011

A vida se esvai

A vida se esvai de mim
Escorre por meus braços
Por meu peito
E vai
Minha mente criativa se cansou
Não há mais interesse
Me distraio
Em vida
A vida se tornou mera distração
Um passa-tempo sem importância e sem significado
Eu não entendo
Não entendo de onde as pessoas tiram tanto desejo por ela
Tudo parece menor
Tudo é muito pequeno
Nada me move mais
Mas enquanto procuro repostas me distraio
Nada demais
Apenas as pequenas coisas do dia a dia
As pequenas almas que me rodeiam
E não me tocam
E eu me esvaio de tudo e de todos
Me isolo em busca de entendimento
Me afundo em ceticismo
E me distraio com nada
De importante

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Raiva

Ah, essa raiva que vive dentro de mim.
Ah, essa raiva disfarçada que me toma.
Ah, essa raiva dissimulada,
que me dociliza diante dos outros
e me imbeciliza diante de mim.
Ah essa raiva, que me domina há tanto,
sem nome, sem rosto, sem se identificar.
E vive minha vida por mim.
Ah, essa raiva abafada, que causa estrago sem ser notada.
Ah, essa raiva, que me empurra para onde não quero ir.
Ah, essa raiva calada.
Ah, essa raiva entalhada, incrustada, primitiva.
Ah, quanta raiva!
Ah, quanta raiva guardada, escondida, fingida.
Que de tão torta me estraga.
De tão antiga me azeda.
De tão presente se esquiva.
E de tão pungente me priva
de mim.

sábado, 22 de outubro de 2011

Espertinha

A chuva está batendo no vidro da janela. Os vizinhos conversam não sei o que. As janelas estão fechadas e eu não consigo ouvir. Tem um portão que não para de bater.

O dia está cinza. E eu acinzento junto. O piano de Nina lamenta.

Tem água fervendo no fogão. Meu almoço está quase pronto. Macarrão instantâneo.  Hora de desligar e comer. Desce sem graça, sem gosto. Alimenta.

A vida me cutuca. Ela adora estes momentos. Chega de mansinho e encosta em mim. E não me deixa em paz enquanto eu não lhe der atenção. Eu lhe dou. Penso. E não chego a grandes conclusões. A conclusão é que nunca deixarei de pensar sobre ela. E nunca chegarei a grandes conclusões.


A chuva aumentou.

E aí? A vida é pra comer? É pra guardar? É pra esquecer? É pra analisar? É pra sorrir ou pra chorar? É pra vencer, ganhar dela? É pra engolir ou ser engolida por ela? Danada... Espertinha, ela.

Aí ela me cansa. Ai, chega de tanta ladainha... Vou ali, pintar minha estante. Vou ali, pintar minha vida. Vamos ver como ela ficará.

sábado, 15 de outubro de 2011

Um cadinho de tristeza

E aí que de repente bate uma tristeza. Aquela tristeza que a gente evita. Aquela tristeza que a gente vive para evitar. Aquela tristeza que a gente não vê em comercial de margarina. Por isso que a gente a evita, né?

Aquela tristezazinha de leve de gostar e não ser gostado. Aquela pontinha de dó da gente mesmo por querer dar um abraço e não ter pra quem dar. Aquele incomodozinho das horas vazias que obrigam a gente a pensar no que a gente não quer e nos lembrar que tem tanta situação na vida que nos colocou na presença de gente que marca a gente. E depois vão embora. Ou a gente vai embora delas. E sente falta. Mas agora já passou a época. Aquele apertozinho de lembrar de um sorriso e um abraço que não são para você. Aquela angústia de querer tocar em alguém, abraçar alguém, dizer palavras doces e suaves e de sabedoria para alguém, mas cadê? Esse alguém não está, não pode estar, não quer estar. Sei lá. Dói um cadim, mas um cadinho só, por que senão é dor demais. E a gente precisa continuar andando.

Aí ela passa. Porque tem que passar. Por que a gente sente a tristeza e logo arruma algo pra se ocupar. Aí ela passa. E a gente se esquece dela. Até ela aparecer de novo... Porque ela passa, mas não some. 

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Estar só

Viver só

Nascer só e morrer só

Sorrir só

Chorar só

Se ver só

Se encontrar só

É o grande desafio humano

Para,  aí sim,

Estar junto

Viver em grupo

Nascer e morrer assistido

Sorrir com a turma

Chorar em um ombro

Se ver querido

E colher toda a beleza de uma vida plena.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Planar

Hoje é o dia em que decidi viver. Hoje é o dia em que eu descobri que a morte me acompanhará todos os dias, mas ela não precisa vencer todos os dias. Ela só vencerá um. Nos outros a vida vencerá, se eu deixar. Hoje é o dia em que notei que não importa quantos rótulos podemos ter, quantas cópias podemos ser, quantos sentimentos podemos copiar. Não importa, porque até para isso há uma força individual e única que é só minha e só eu a posso gerar. Hoje eu percebi que a força da vida está em dar a ela uma chance. Sem expectativas, sem ambições muito altas. Apenas um sorriso. E a onda de ar quente que vem dela te levanta e faz planar. É só se manter naquela corrente de ar quente que ela proporciona e se soltar. E planar. Planar pela vida. A morte está lá embaixo, presente, mas eu não preciso me lembrar dela agora, preciso? Eu quero planar. Há ainda muitas fotos a serem tiradas, muitas gargalhadas a serem compartilhadas, muitas lágrimas dentro de mim, muita emoção dentro de mim. Escolho viver, para que elas aconteçam, e deixem de ser apenas um pensamento.  Escolho viver porque a vida se concretiza em vida. Escolho viver e colher tudo isso agora, porque a morte está ali. Escolho viver porque a vida é essa e é uma e é única e se esvai. Escolho colher toda a cor em volta de mim neste instante. Escolho planar com a leveza e a beleza de quem anda de bem com a vida. Escolho erguer meus olhos e me enxergar inteira, seja lá o que isso for. Escolho ser a colagem que eu quiser ser. Colagem de todos os pedacinhos das maravilhas que encontrei por onde passei. Escolho montar o quebra-cabeça de minha vida com cor, beleza, brilho, suavidade, flor, gente encantadora e especial demais. Escolher viver é sempre uma boa opção. E não é para qualquer um. Apenas para aqueles que têm a morte ao seu lado dia a dia. 

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

No churrasco

- Êta coraçãozinho amargo!...

Soldado raso

Eu sou um soldado raso. Desprovido de grandes talentos. Pouca habilidade estratégica. Senso de liderança: zero.

Vou pra linha de frente. Coragem. Alienação. Obediência. Trilha sonora. Me jogo. Morro. Feliz. Dever cumprido. 

O mundo pode continuar.

Onde eu estava...

- Que que eu estava falando mesmo? Me perdi...
- Que que eu estava fazendo... er...
- Onde eu estava mesmo?

Piada

Neste mundo que é uma grande piada quem não tem senso de humor dança.


Adoro lambada, e você?

Bebida forte

Preciso de uma bebida forte que me empurre para fora. Aqui dentro tá abafado. Aqui dentro é um lugarzinho patético. Aqui dentro já está fedendo de podre.

Conto de fadas

Era uma vez uma garotinha. Doce. Meiga. Vestidinho rodado. Tola. Já cometeu seu primeiro erro. Nasceu mulher. E assim acaba a história. Ela não foi feliz para sempre.

Drogas

Hoje é o dia em que resolvi tomar drogas. Hoje é o dia em que decidi que minha vida é uma grande bosta. É o dia que decidi que não dá mais. Hoje é o dia que já não sei de mais nada. Não sei mais o que costumava saber. Hoje é o dia em que o mundo ruiu debaixo dos meus pés e eu perdi toda a noção do que é viver. Hoje é o dia que eu decidi não viver mais. Hoje é o dia que resolvi morrer. Queria ter coragem para realmente decidir morrer, então eu decidi que hoje é o dia que vou tomar drogas. Hoje é o dia em que não dá mais. Não dá. Tá impossível continuar. Continuar o quê? Nem sei. Hoje é o dia que percebi que o plano nunca foi meu. Vivo o plano dos outros. Hoje é o dia que percebi que eu nunca existiu. Existiu ela, mas não eu. E hoje é o dia em que percebi que construir um eu autêntico não existe. Não existe eu, existe nós, vocês, modelos e cópias. E hoje eu percebi que odeio meu modelo e odeio a cópia que sou. Hoje percebi que sempre achei que era um eu autêntico, que busquei ser sempre eu. Mas não há espaço para eus. Só para cópias e modelos. E agora fudeu. Qual modelo ter? Qual cópia seguir? Descobri que eu sempre fui uma cópia e uma cópia idiota, que acha que não é cópia. Agora percebo que tenho que continuar sendo cópia. Agora descobri o que significa liberdade. Liberdade é  descobrir que posso escolher o modelo que quero copiar. E quanto mais eu conseguir disfarçar a cópia, mais preso ao seu modelo eu estarei e mais livre serei. Mas não autêntica. Liberdade não tem nada a ver com autenticidade. Liberdade não existe e autenticidade tão pouco. Hoje cresci e usarei drogas. Já é um bom começo.

sábado, 20 de agosto de 2011

Revolução

A revolução está chegando. Armas em punho. Apontadas para mim, como deve ser. A revolução se organiza. Campos de guerrilha se espalham. O treinamento é intenso aqui dentro. As idéias se arrastam, se propagam. Em surdina. Eu tomo nota. A semente foi plantada e há um burburinho que se espalha rapidamente, a fim de agregar mais e mais ação. Clandestinamente, o embrião da revolução é gerado, alimentado, e cresce. Ela está por vir, e é bem vinda. É ansiosamente aguardada. O estado atual já não comporta mais a força das minhas novas idéias. Meu organismo, cansado, esgotado, confuso, perdido, revoltado, irritado, aguarda a chegada de uma nova era.

Não se sabe muito bem os rumos a partir de então. Não há um planejamento concreto. Apenas um grito há muito abafado. Com potência diretamente proporcional ao tempo de espera. Que derrubará muros. Destruirá as bases da estrutura vigente. E tudo recomeçará.

As bandeiras estão a postos. A cara está pintada. As armas estão carregadas. O grito está na garganta, a ponto de sair. A insurreição está armada. A energia é vibrante. A expectativa, imensa. Nada será como antes. 

domingo, 14 de agosto de 2011

Podemos ser amantes eternos

Podemos ser amantes eternos. Podemos deixar nossas almas se comunicarem e falarem coisas que só se falam com a alma. Podemos ignorar um ao outro até o ponto de não nos lembrarmos mais um do outro, não lembrarmos mais dos detalhes dos olhos um do outro. Mas conheceremos nossas almas melhor que ninguém mais. Eu, a sua. Você, a minha. Porque, a bem da verdade, elas se comunicam. Eu falo com a sua neste instante, porque a sua alma me chamou. Seremos eternos estranhos, ríspidos, infelizes, rabugentos, solitários. E nossas almas bailarão juntas numa valsa etérea. Eu te esquecerei, encontrarei outros. Você continuará zanzando entre relações falidas. E nossas almas juntas, olharão para nós dois e darão risada, cúmplices. Morreremos em vida um para o outro. Minha alma e a sua andarão lado a lado. Pintarão quadros coloridos de poesia e cantarão uma para a outra. Reconhecer-se-ão no escuro. Encontrarão descanso no colo uma da outra. Nós beberemos ao som de Blues. Olharemos para trás sem poder nos tocar. Nós nos perderemos. Continuamente. Podemos ser amantes eternos. Sem perceber, já somos. 

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Preço de ocasião

- Tem senso crítico?
- Tem não. Tá em falta no mercado.
- Ah... Eu li numa revista que é bom... O que tem aí hoje?
- Tem conformismo da melhor qualidade. Tá ali na pilha, inclusive tá em  oferta. Você leva conformismo e ganha alienação de brinde!
- Eba!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

a gente

a gente é um produto inacabado
uma explosão por vir
que não vem
um abraço apertado
que se quer mas não tem
um gostinho de quero mais
nunca saciado
a gente é assim
complicado
que não descomplica
um incômodo presente
a bittersweet symphony
na pauta
a gente é assim
coisa esquisita
que sofre, e pensa, e chora
e angustia, e considera e desconsidera
e não vive, só imagina
a gente é assim
cheio de chance de ser feliz
mas pra que ser feliz junto
se a gente pode sofrer longe?
gostoso é doer
gostoso é sofrer
gostoso é querer
e não ter

domingo, 31 de julho de 2011

Amy

Pulso
Acorde
Melodia
Pulsa
Acorda
Melancolia
Pausa
Chora
E canta
Encanta
E dói
Anestesia
Ah Amy!
Haja mundo pra tanta dor
Haja voz pra tanto desespero
Haja amor pra tanto vazio
Haja lágrima pra tanta escuridão
Como Holiday sua voz sangrou
Sua alma rasgada como uma fratura exposta
Demasiada humana
Incômoda e bela
Viciante
Sublimou-nos
Sublimou-se
E sangrou.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Quem?

Alguém me lembra quem sou eu?
Há muito tempo esqueci
Dançava alegre por aí
Cantava
Agora me perdi
Por onde foi que andei?
Já não sei
O caminho, a ladeira que desci
Fui por ali
E nem sei onde cheguei.
Desenhei belos romances
Balancei ao som do sonho
Vibrei as cordas das minhas cores
Musiquei-me, pintei-me, inventei-me
Agora me perdi
Nas quinas rígidas das paredes brancas
Que construí em volta de mim
Já vi esse filme antes
Mas imitar a arte foi o que decidi
Copiei o script para mim
E cá estou eu
Alguém pode me dizer quem?
Alguém pode se lembrar de mim?
Alguém pode me lembrar de mim?

quarta-feira, 29 de junho de 2011

E então...

E então a gaiola se abriu
Lá de dentro, com meu bico, cutuquei a fechadura
Insisti
Cutuquei
Matutei
Analisei
E abri!
Ninguém viu... só eu.


Empurrei
Com pouca força
A portinhola se abriu um pouquinho
Rangeu
Eu, lá do fundo, observei
Missão cumprida!

E então a gaiola se abriu...

E agora?

terça-feira, 21 de junho de 2011

Amor

O amor é uma coisinha muito engraçada
Que até quando a gente não quer, ele entra e faz morada
Mas se espreita pelos cantinhos mais secretos
E fica lá escondidinho
E a gente nem percebe
Quando vê já fez um estrago.

Moleque danado, prega peças bem arrojadas
Tem um senso de humor sarcástico
E pega qualquer um desprevenido

E aí? Que fazer? Fugir?
Fugir de quê? Você não o vê.
Não sabe para onde ir.

E ele fica lá, menino levado
Te vendo girar como uma barata tonta
Sem saber de que lado veio o golpe.

Já era, virou piada do destino
And another one bites the dust.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Movimento

Fora do corpóreo invólucro
Quem sobreviverá?
Nem aquela que ri e dança
Nem a que em paz descansa

Fora dessas lentes
O espírito vaga desordenado
Perdido, sem plano certo
Ambulante, sem estar liberto

Dentro desse recipiente
Me acolho resignada
Me escondo oprimida
Simulo a morte ainda em vida

Me reconheço estando só
Me aturo, egulo seco
Me calo em segurança
Me fecho resignada, mansa

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Bondage

Minha cabeça deu um nó
Que na garganta parou
Que na língua enrolou
Me amordaçou

Me enrosquei toda
Nessa cilada, enlaçada
Emudecida, paralisada
Envolvida que só

Foi um aperto no pescoço
E me deu um troço
Que de ver-te, não posso
Meu corpo eriçou

Imobilizada, desperta
Respiro-te perto
Um soluço incerto
De prazer e furor

É tua máscara na certa
Que esse serviço presta
De me pôr inquieta
Suor e calor

Dói, mas eu gosto
Do gosto, do ócio
Do ópio, do vício
Hipnótico ardor

Que bate e aperta
Segura e espeta
Envolve e aceita
Só lágrima e dor

Que prende e desarma
Fere e amarra
Essa presa sem garra
Essa vítima do amor

domingo, 12 de junho de 2011

A viagem

O fato é que sair de casa me faz sair de mim. O fato é que viajar me faz encontrar um monte de pessoas que realmente mexem comigo. E estão todas dentro de mim. Só que normalmente elas ficam lá, bem quietinhas, porque estão esquecidas. Eu, coitadas, abandono-as, sufoco-as. Esqueço-me delas. Acho que tenho medo de cada uma delas. Por que são todas eu e eu tenho medo de me encontrar. Ficando em casa é mais fácil lidar com aquela eu que criei pra poder me aturar. Mas sair de casa me faz ter que lidar com cada uma das outras. E são todas ensandecidas. Ou me assustam bastante. Ou nem são tão perigosas assim, mas como me desestabilizam! O fato é que encontrá-las me agita e aí é que mora o perigo. Porque o susto é proveitoso e me embala. Quero ficar com ele e viver nele. Mas aí, é a volta para casa que entra em jogo. Ah não... Vou ter que encontrar com aquela eu de novo. Aquela, que tudo aceita, que vive embalada pela rotina, que finge ser o que é e finge estar tudo bem. Que vive em sua redoma e aceita quando dizem que é ótimo... Quero ficar aqui, com essas outras pessoas que vivem dentro de mim, tão mais interessantes, interessadas, empreendedoras, criativas, bonitas, modernas. Por que eu tenho que voltar? Voltar não é algo ruim? Voltar não é andar pra trás? Mas parece que é o ritmo imposto pela dualidade imposta pela experiência coletiva. Se vamos temos que voltar não é? Chato...

 Jan -2010

domingo, 29 de maio de 2011

Festa


A festa era ela
Era ela em festa
Festava e era ela
Ela e a festa
Festival dela
Fera festeira bela
Faceira fagueira
Festiva como ela
Era a festa e ela
Era ela em festa
Em festa ela era
Festejava
E era ela

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Para ela

Se me for permitido te dar um conselho: coragem! Sim. Coragem. Você é uma grande mulher. Alcançou tantos feitos em sua vida. Ajudou tantas pessoas e educou mais outras muitas. Salvou vários seres. Passou por gestação, parto, criou sua prole. Encarou dupla, até tripla jornada. Encarou os altos e baixos de uma relação.

Você é uma mulher forte, um exemplo de trabalho e luta. Coragem? Sim. Há uma barreira ainda a ser transposta. A barreira do Eu. Coragem! Esta é sua verdadeira prova.

Há vida ainda. Não atropele os dias. Há felicidade ainda. Não se anestesie. Há amor a ser colhido. Há afeto a sua volta. Levante os olhos! Está tudo ao alcance de suas mãos. Então porque você insiste em empurrá-los para longe? Não os enxote... Eles podem realmente ir embora.

Há alguém que ainda precisa de sua ajuda. Esta é sua maior missão. Há uma menina que ainda precisa de sua ajuda. Ela está quietinha em algum canto escuro. Ela está esquecida. Ela já se esqueceu. Mas ainda há vida. Ainda há amor. Ainda há felicidade. E ela merece. Ela merece. Ela merece ser amada. Ela merece ser feliz. Ela não acredita, mas ela merece. Então arregace as mangas e coragem!  Esta menininha está esperando há uma vida!

Não! Não olhe para os lados. Não passe para outro esta responsabilidade. Não espere uma outra vida. Ninguém pode cumprir esta missão. Ninguém pode encontrar esta pequena pessoa. Não me culpe, não o culpe. Está na hora de encará-la e só você pode fazê-lo.

Eu sei! Você está cansada. Mas não se perca em atividades que a distraiam de sua verdadeira missão. Todo o trabalho do mundo não é mais importante que este. Todos os necessitados do mundo ainda estarão lá quando você voltar.

Coragem! Olhe para o espelho, encontre esta menina tão linda e especial. E cuide dela. Ela merece! 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Débora

Fortaleza e fogo contido
Às vezes.
Explodiu!
Em lágrimas
e um sorriso surgiu
liiindo, leve delicado
gostoso até
mas e agora?
Ela vai
Na direção do vento
Na rosa dos ventos
O vento te carrega
E já foi
Foi mesmo
Daqui a pouco volta,
Mas vai de novo
E volta, naquela sede de abraço
Sede de olhar
E de um cafezinho à mesa
Com um pãzinho e uma manteiga
Irmãs para completar
Afago, aconchego, um cheiro
E lá se foi de novo!
Mas volta.. ela volta...

Emília

Onde ela está?
Esta menina que vaga
De olhos fechados
E coração aberto
Onde ela se vê?
No espelho do passado
Nas páginas em branco que ainda virão
Na escuridão do outro
Onde procurar?
Nas telas de ilusão
Na sedução do corriqueiro
Nas horas perdidas do agora
Onde encontrar?
Na beleza do eu
Na força do eu
Que só o eu pode dar
E só o eu pode buscar.

Tainá

Um perfume de ontem
Um sabor de sonho
Uma cor de brilho meio blasé
Um olhar tão miúdo
Que vê tão bem, e tanto
E tudo colorido
Um vozeirão tão forte
Caladinho lá no fundo, beeem láá..
Em meio ao choro de Piaf
Um brinco semente
Que brota em riso e em ruga
Um coração grande, buscando seu espaço
Uma pele tão linda
Amarelo caramelo singelo
Uma radiola moderna
De batuques primitivos
E de ponta
Uma mulher à frente de seu tempo
Uma menina em busca de seu papel
E de seu giz
Deusa do dia-a-dia
Uma irmã 

Vanessa

Riso
Malandro
Gozado
Gingado
Sagaz
Medroso
Gostoso
Surpreso
Mirado
Sensato
Virado
Alegre
Vivaz
Irmã
Filha
Companheira de vida
Companheira de alma
De sangue
De lágrima
De peso
E de lástima
E de riso
De riso
De riso
De riso

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Eu sinto muito

                                          eu sinto muito

                                          eu sinto
                                                      muito

                                              sinto 


                                              sinto muito

                                          eu sinto muito

sábado, 30 de abril de 2011

Da saudade

Pior que a saudade daquilo que já vivi
é a saudade do que nunca vivi.
A saudade das oportunidades que não tive
da infância que não vivi
do amor que não senti
e não aprendi
e não recebi
da alegria que nunca desfrutei
das conversas que nunca tive
dos lugares que não conheci
das músicas que não cantei
da emoção que não senti
do carinho que não dei
e que não recebi.

E ainda pior
é a capacidade de imaginar tudo isso
e não viver
e ao imaginar, aumentar o vazio interior
e aumentar a chance de ele nunca ser preenchido

E talvez ainda pior seja
em algum momento
ter a chance de viver algo
e ver essa chance ser tirada de mim
e viver a maldição de passar a vida
imaginando o que teria acontecido
e sentir essa saudade cruel, infeliz, miserável
que não tem cura
e que de tempos em tempos volta para me atormentar.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Havia morrido

Havia morrido. Ninguém notou. Continuaram a cumprimentar. Continuava os afazeres diários. Continuava sorrindo. Continuava andando. Continuava ouvindo, em silêncio. Continuava.

Abria os olhos. Olhava. Não via. Falava. Não sabia o que, não lembrava. Não se importava.  Não importava.


Doíam-lhe os ombros. Não sentia. Doía-lhe a alma. Já não a tinha. Perdeu-se. Mas doía.

Saía, voltava. Saía de novo. Voltava. Dormia. Acordava. Saía de novo.

Ouvia vozes em volta. Mas não havia ninguém. Via vultos em volta. Mas, não. Ninguém.

Sentiu uma pulsão. Seria a vida? Não. Foi engano. Ilusão. Havia mesmo morrido.

Mas continuava.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Transe

Há uma imagem que se pinta em minha frente
De grandes olhos e sorriso rasgado
Ele abre portas que estavam trancadas
Decifra o prazer saboroso no fel da vida
Derruba muros com uma gargalhada irônica
Degusta sons inaudíveis às massas
Desliza sóbrio saltitante saltimbanco
Devora a carne suculenta dos dias
Dedilha melodias satânicas
Deflora gozos proibidos
Descansa em meio às tempestades
E me atrai a um transe irresistível

domingo, 10 de abril de 2011

Ode às probabilidades

Quantas portas se abrem quando temos coragem de abrir a primeira?
Mas porque não abrimos a primeira?
Já não me lembro mais,
Agora que atravessei uma
E milhares de outras vão se abrindo. 


Ah! probabilidades, tão lindas e bem vindas
Quando as deixamos ser assim.


Quantas novas cores podemos enxergar
quando abrimos os olhos para elas? 


E quantas novas pessoas posso ser? 
Todas! Posso ser todas.
Bem vinda, vida!  Eu estava te esperando...

segunda-feira, 28 de março de 2011

Vermes

Muitos vermes me consomem
Muitos vermes sugam minha essência 
E levam o que há de melhor
E deixam a casca.


Eles brotam no interior
Levam meu interior
Embora


São nutridos por mim
E crescem, fortes


Tantos vermes quanto permito
Tantos dentro de mim habitam
E acham várias moradas
E sugam


Parecem viver para sempre
E há sempre mais um
E mais um


Muitos vermes me consomem
Sugam meu interior
Brotam insistentemente
E fica essa casca seca, sem vida
Rígida


Eles me derrubam 
Mas eu não caio
Embora preferisse


A casca range
E os vermes continuam
insistentes
displicentes
descoordenadamente
irritantes
constantes


E a casca continua
Como se nada soubesse
Não cai, fica firme
Embora preferisse

domingo, 6 de março de 2011

Originalidade banida

A verdade é que quero imitar. 
Não há mais espaços para originalidade. 
Espaço não, só exílio... Cansei do exílio. 
Cansei de sonhar por ideais inalcançáveis, lutas frustradas ou emoções falidas. 
Procuro conforto. 
Conforto na imagem produzida, na linguagem fabricada, no pensamento do segundo...
Vou com a multidão e meu destino é certo, cretino, porém certo. 


Vendida, vida bandida.


2010/2

Crisálida

ela queria falar
mas só chorava
e de lágrimas encheu
seu quarto
as lágrimas eram cristais
azul, rosa, lilás
e luz


as lágrimas
a envolviam
e a acalentavam
e a confortavam
como fios de seda
delicados
infinitos
e a abraçavam


eram muitos
e neles ela se refugiou


como um novelo
ela estava,
atada aos fios
no meio deles
atada
envolvida
e quanto mais ela chorava
mais eles a envolviam


e formaram uma
crisálida
macia e firme
delicada e resistente
e ali ela se pôs
e ali se manteve


como era bom estar ali
tão protegida
mas sufocava
e cegava
uma crisálida,
não uma tumba
até quando tantas lágrimas?


experimentou
veio devagar, trêmula porém decidida
era a hora, já não havia mais dúvidas
e a voz brotou
abriu suas frágeis asas
como eram belas
e eram delicadas
rosa, azul, lilás
e luz


e voou


- 23/01/2009

Sem raiz

Cortaram minha raiz
Algumas poucas ainda se pregam ao chão
mas são poucas e finas e pequenas
e carregam a responsabilidade de segurar todo o peso
e pesa

Cambaleio

Cortaram a minha raiz e agora vago
sem chão
sem pé
sem lugar
Sem raiz fica difícil se achar

cortaram minha raiz e já não reconheço meu tronco
não reconheço meus membros
não me reconheço

Se cortaram minha raiz como me sustento?



24/11/2008

Olhava para fora

Olhava para fora, sentada à janela
Mãos sobre os joelhos
Braços esticados
Pés no chão

Via além do vidro, além das grades
Via o azul, via o horizonte distante 

As grades não estavam lá
Só a energia do sol, dominante, aquecendo o interior, a pele, o ânimo
E seus olhos não perdiam o horizonte de vista 


Os gritos não estavam lá
Ouvia o som do ar, do sol, do verde
Ouvia melodias e poemas. Os gritos, não. Agora não...


Sentada, olhando para fora
Fora
E dentro, só silêncio
Silêncio revoltoso, energético, retumbante
Harmônico
Doido pra sair


E um sorriso brotou 





14/10/2008

Olhar

Então o olhar se surpreende.
Descobre que existem palavras.
São-lhe ainda ríspidas.
Que tanto dizem? E dizem?
Desconfia.
O olhar ainda quer dizer.
Falar com a força do oculto.
Prefere ser decifrado.
As palavras o desafiam.
Só que ainda se confundem na tradução.
Loucas, desmedidas, não conseguem se conter.
Terão elas tal poder?
O olhar é certeiro, porém tímido.
Será ouvido?
Provável que não.
Mas como se entregar à fúria incontida do dizer?
Expor, desproteger?
Encolhe-se e volta para si.
Contido, acuado
Seguro, escondido
Silencioso.

01/10/2007