quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Drogas

Hoje é o dia em que resolvi tomar drogas. Hoje é o dia em que decidi que minha vida é uma grande bosta. É o dia que decidi que não dá mais. Hoje é o dia que já não sei de mais nada. Não sei mais o que costumava saber. Hoje é o dia em que o mundo ruiu debaixo dos meus pés e eu perdi toda a noção do que é viver. Hoje é o dia que eu decidi não viver mais. Hoje é o dia que resolvi morrer. Queria ter coragem para realmente decidir morrer, então eu decidi que hoje é o dia que vou tomar drogas. Hoje é o dia em que não dá mais. Não dá. Tá impossível continuar. Continuar o quê? Nem sei. Hoje é o dia que percebi que o plano nunca foi meu. Vivo o plano dos outros. Hoje é o dia que percebi que eu nunca existiu. Existiu ela, mas não eu. E hoje é o dia em que percebi que construir um eu autêntico não existe. Não existe eu, existe nós, vocês, modelos e cópias. E hoje eu percebi que odeio meu modelo e odeio a cópia que sou. Hoje percebi que sempre achei que era um eu autêntico, que busquei ser sempre eu. Mas não há espaço para eus. Só para cópias e modelos. E agora fudeu. Qual modelo ter? Qual cópia seguir? Descobri que eu sempre fui uma cópia e uma cópia idiota, que acha que não é cópia. Agora percebo que tenho que continuar sendo cópia. Agora descobri o que significa liberdade. Liberdade é  descobrir que posso escolher o modelo que quero copiar. E quanto mais eu conseguir disfarçar a cópia, mais preso ao seu modelo eu estarei e mais livre serei. Mas não autêntica. Liberdade não tem nada a ver com autenticidade. Liberdade não existe e autenticidade tão pouco. Hoje cresci e usarei drogas. Já é um bom começo.

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